quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

REVISTA BLACKFACE PRODUZIDA COM VERBA PÚBLICA DO FOMENTO À DANÇA

Revista "Murro em Ponta de Faca" utiliza-se do recurso BLACKFACE para satirizar a luta do Movimento Negro no Brasil, fazendo uma crítica direta a conquista do EDITAL PRÊMIO FUNARTE DE ARTE NEGRA de 2013. Neste contexto, o mecanismo tradicional racista denominado Blackface foi utilizado por Sandro Borelli (Presidente da Cooperativa Paulista de Dança) e sua equipe editorial para ridicularizar os negros e suas conquistas no âmbito das Políticas Públicas.

Diante de uma capa super tendenciosa e parcial, algo comparável apenas com a Revista VEJA, o leitor nem precisaria ler o conteúdo interno para saber o posicionamento da revista em relação ao tema apresentado. Além de desqualificar a capacidade intelectual e auto-crítica do leitor, nesta edição, a revista se apropria de um tradicional recurso apelativo de manipulação, a partir de um julgamento fechado arraigado no preconceito etnico-racial. Como se não bastasse, com tom de ironia, a revista utiliza-se da representação esdrúxula de um artista branco pintado de preto e peruca (fazendo menção ao cabelo crespo), lábios contraídos forçosamente com a intenção de remeter ao beiço do negro e uma placa na mão dizendo "Quero Meu Edital!". Com humor sarcástico, o personagem esteriotipado se caracteriza deste jeito com a intenção de deslegitimar e inferiorizar os afro-descendentes, a partir dos seus fenótipos negros produzidos, colocando-os na condição de "vitimismo" e "coitados", já que reivindicam um edital específico para as artes de matrizes africanas. Tal posicionamento político adotado pela revista, simbolicamente também remete ao pensamento liberal e conservador, utilizando-se do convencional argumento contra as cotas raciais, baseado no antigo discurso da MERITOCRACIA, onde "vencem os melhores e mais preparados" na jaula dos leões famintos.

Percebe-se que nesta ocasião, a "classe da dança" representada em suma pela Cooperativa Paulista de Dança (na condição de apoiadora da revista), bem como, através de uma carta publicada na internet, se posicionou definitivamente contra o primeiro edital para artistas negros, sem ao menos compreender o quanto o edital simbolicamente estaria representando as conquistas e avanços deste movimento.

Porém, posteriormente essa história se apresenta de maneira ainda mais contraditória, quando começamos a ligar os pontos de argumentação da trama. Momento em que o Fórum de Artes Negras e Periféricas reivindica a Popularização e Democratização do acesso ao Fomento a Dança da Cidade de São Paulo para Companhias e coletivos das Danças Negras, Afro, Populares e Urbanas (Hip-Hop), e outras definições de estilos excluídas no Programa.

Referindo-se ainda ao Fomento a Dança da Cidade de São Paulo, com a pretenção de manter os privilégios, fomos obrigados a escutar destes mesmos representantes que um dia colocaram-se contra o edital Nacional da Funarte específico para artistas negros, os seguintes dizeres: Respeitem a nossa luta, respeitem o nosso edital, CRIEM O EDITAL DE VOCÊS!

Imagina só, a criação de um Programa específico para cada estilo/pensamento de dança na cidade de São Paulo. Além de contraditório, isso não seria assumir declaradamente que vivemos então um APARTHEID RACIAL NA CULTURA? Já que todo mundo sabe que o termo "dança contemporânea" ainda esta atrelado a uma história da arte, baseada a uma cronologia de "evolução" eurocêntrica iluminista, que geralmente não reconhecem e compreendem a dança contemporânea diante da pluralidade corporal de identidade negra com vocabulários de movimentações afro-brasileiras, bem como da “Cultura de Rua” denominada hip-hop.

Vale ressaltar que a publicação desta revista integra o projeto "Artista da Fome", contemplado pela 13ª Edição do Programa de Fomento à Dança / 2012. Mesmo produzindo um material racista com verba pública, a companhia Carne Agonizante de Borelli voltou a ser contemplada no Fomento a Dança da Cidade de São Paulo após esse episódio, possui um histórico de 100% de aprovação no período de 10 anos de existência do programa, com 7 projetos enviados, onde foram contemplados todas as 7 vezes.



Créditos da Revista
Realização: Programa de Fomento a Dança e Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo
Apoio: Kasulo e Cooperativa Paulista de Dança
Produção: Dionísio

CONSELHO EDITORIAL
Gustavo Domingues
Márcia Marques
Sandro Borelli

A Revista On-line continua disponível no Site da Cia Carne Agonizante:
http://www.ciacarneagonizante.com.br/sis/pageflip/id-411/murro_em_ponta_de_faca__07

5 comentários:

  1. Lindo texto. Concordo plenamente! Se o Programa se chama Fomento à dança, é DANÇA e não uma dança específica. A assembleia legislativa nem tem como agir nesse caso, pois a lei da dança já existe. Não ao aparthaid.

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  2. Eles estão em todas parte, saem da academia e nos roubam tudo bando de cafajestes racistas

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  3. É ultrajante essa capa e o que li a esse respeito. Deveriam ser processados pelo uso do dinheiro público numa publicação racista (devolução da verba e multa por injúria racial).
    Boa atualização da questão que não deve sair da pauta do movimento negro, porque esses canalhas racista querem todas as verbas para seus pastiches artísticos de qualidade duvidosa como essa revista apresenta.

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  4. ehhh, escolhem comentários?// Bom saber desta democracia defendida , muito bom

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