quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

ATA - Reunião Geral, 30 de julho de 2015

Fórum de Artes Negras e Periféricas
Reunião Geral – São Paulo, 30 de Julho de 2015
Local: Ponto de Cultura Afrobase

Grupos, Coletivos e Cias presentes:
Back Spin Crew
Ballet Afro Koteban
Cia Treme Terra
Cia Pátio Heliópolis
Cia Sansacroma
Coletivo Válvula
Comunidade Cultural Quilombaque
Com[som]antes
Conselho Municipal de Cultura de Diadema
Daniel Marques da Silva
Fernando M. C. Ferraz
Grupo Cupuaçu
Grupo de Capoeira Cruzeiro do Sul
Grupo Ewé
Herdeiras de Aqualtune
Levante Mulher
Linha Cruzada Cia de dança
Ocupação Cultural Casarão
Ong Sonho de Criança
Rede Brasil de Danças Urbanas
Ritmos de Rua
Sampa Masters
Street Breacker’s
Thiago Negraxa
Visível Núcleo de Criação

Pauta:
  1. Levantamento de propostas para alterações da Lei Nº 14.071 de Fomento à Dança;
  2. Estratégias para incluir os membros representativos do Movimento da FANP na Comissão Julgadora;
  3. Criação de uma Comissão de Auxílio para escrita de projeto à grupos, cias e coletivos interessados em participar do 19ª Ed. do edital de Fomento à Dança. 

1ª Pauta:

Foi feita a leitura da Lei de Fomento a Dança da Cidade de São Paulo e levantado alguns tópicos que poderiam ser modificados com intuito de Ampliar e Democratizar o acesso ao Programa para Cias, Grupos e Coletivos que possuem outras temáticas, poéticas, estéticas, vocabulários, estilos/pensamentos e metodologia de trabalho, que se encontram fora do RECORTE dimensionado pelo então edital.

2ª Pauta:

Os membros da FANP foram informados por representantes da SMC que não poderá compor as entidades representativas da Dança por não compreender o Período mínimo de existência de dois anos.
Foi decidido o FANP procuraria uma entidade representativa da dança apta para receber a proposta de composição da comissão julgadora indicada no último Fórum.
Foi discutido a importância de auxiliar novas companhias, grupos e coletivos para inscrever seus projetos, com intuito de tentar garantir maior números de votos para a escolha da composição da comissão julgadora.

3ª Pauta:

Os membros disponíveis irão auxiliar a escrita de projetos através de conversas online;
A lista deverá ser publicada no grupo do facebook, para disponibilizar o acesso aos grupos interessados.
Uma estratégia para facilitar a escrita dos projetos é utilizar, como base, projetos que já estejam em andamento, auxiliando no seu processo de reelaboração.
Fazer levantamento de Pessoas Jurídicas que possam colaborar com a representação do CNPJ dos grupos interessados em enviar os projetos.
Apesar de “Negraxa, Gal Martins e Kleber Lourenço” terem se disponibilizado para auxiliar na escrita do projeto, eles são membros capazes de compor a atual Comissão Julgadora. Portanto, o Movimento compreende que os membros supracitados não poderão auxiliar neste processo, para não agirmos com antiética.
Membros disponíveis para auxiliar na escrita de projetos para os grupos interessados em competir no 19º edital de Fomento à Dança: Andrus Santana, Fernando Ferraz, João Nascimento, Lucas T. Marchezin, Renato Alves e Lucila Poppi.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

REVISTA BLACKFACE PRODUZIDA COM VERBA PÚBLICA DO FOMENTO À DANÇA

Revista "Murro em Ponta de Faca" utiliza-se do recurso BLACKFACE para satirizar a luta do Movimento Negro no Brasil, fazendo uma crítica direta a conquista do EDITAL PRÊMIO FUNARTE DE ARTE NEGRA de 2013. Neste contexto, o mecanismo tradicional racista denominado Blackface foi utilizado por Sandro Borelli (Presidente da Cooperativa Paulista de Dança) e sua equipe editorial para ridicularizar os negros e suas conquistas no âmbito das Políticas Públicas.

Diante de uma capa super tendenciosa e parcial, algo comparável apenas com a Revista VEJA, o leitor nem precisaria ler o conteúdo interno para saber o posicionamento da revista em relação ao tema apresentado. Além de desqualificar a capacidade intelectual e auto-crítica do leitor, nesta edição, a revista se apropria de um tradicional recurso apelativo de manipulação, a partir de um julgamento fechado arraigado no preconceito etnico-racial. Como se não bastasse, com tom de ironia, a revista utiliza-se da representação esdrúxula de um artista branco pintado de preto e peruca (fazendo menção ao cabelo crespo), lábios contraídos forçosamente com a intenção de remeter ao beiço do negro e uma placa na mão dizendo "Quero Meu Edital!". Com humor sarcástico, o personagem esteriotipado se caracteriza deste jeito com a intenção de deslegitimar e inferiorizar os afro-descendentes, a partir dos seus fenótipos negros produzidos, colocando-os na condição de "vitimismo" e "coitados", já que reivindicam um edital específico para as artes de matrizes africanas. Tal posicionamento político adotado pela revista, simbolicamente também remete ao pensamento liberal e conservador, utilizando-se do convencional argumento contra as cotas raciais, baseado no antigo discurso da MERITOCRACIA, onde "vencem os melhores e mais preparados" na jaula dos leões famintos.

Percebe-se que nesta ocasião, a "classe da dança" representada em suma pela Cooperativa Paulista de Dança (na condição de apoiadora da revista), bem como, através de uma carta publicada na internet, se posicionou definitivamente contra o primeiro edital para artistas negros, sem ao menos compreender o quanto o edital simbolicamente estaria representando as conquistas e avanços deste movimento.

Porém, posteriormente essa história se apresenta de maneira ainda mais contraditória, quando começamos a ligar os pontos de argumentação da trama. Momento em que o Fórum de Artes Negras e Periféricas reivindica a Popularização e Democratização do acesso ao Fomento a Dança da Cidade de São Paulo para Companhias e coletivos das Danças Negras, Afro, Populares e Urbanas (Hip-Hop), e outras definições de estilos excluídas no Programa.

Referindo-se ainda ao Fomento a Dança da Cidade de São Paulo, com a pretenção de manter os privilégios, fomos obrigados a escutar destes mesmos representantes que um dia colocaram-se contra o edital Nacional da Funarte específico para artistas negros, os seguintes dizeres: Respeitem a nossa luta, respeitem o nosso edital, CRIEM O EDITAL DE VOCÊS!

Imagina só, a criação de um Programa específico para cada estilo/pensamento de dança na cidade de São Paulo. Além de contraditório, isso não seria assumir declaradamente que vivemos então um APARTHEID RACIAL NA CULTURA? Já que todo mundo sabe que o termo "dança contemporânea" ainda esta atrelado a uma história da arte, baseada a uma cronologia de "evolução" eurocêntrica iluminista, que geralmente não reconhecem e compreendem a dança contemporânea diante da pluralidade corporal de identidade negra com vocabulários de movimentações afro-brasileiras, bem como da “Cultura de Rua” denominada hip-hop.

Vale ressaltar que a publicação desta revista integra o projeto "Artista da Fome", contemplado pela 13ª Edição do Programa de Fomento à Dança / 2012. Mesmo produzindo um material racista com verba pública, a companhia Carne Agonizante de Borelli voltou a ser contemplada no Fomento a Dança da Cidade de São Paulo após esse episódio, possui um histórico de 100% de aprovação no período de 10 anos de existência do programa, com 7 projetos enviados, onde foram contemplados todas as 7 vezes.



Créditos da Revista
Realização: Programa de Fomento a Dança e Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo
Apoio: Kasulo e Cooperativa Paulista de Dança
Produção: Dionísio

CONSELHO EDITORIAL
Gustavo Domingues
Márcia Marques
Sandro Borelli

A Revista On-line continua disponível no Site da Cia Carne Agonizante:
http://www.ciacarneagonizante.com.br/sis/pageflip/id-411/murro_em_ponta_de_faca__07

ATA - REUNIÃO GERAL no Dia 06 de Junho de 2015


Fórum de Artes Negras e Periféricas
Reunião Geral - São Paulo, 06 de Junho de 2015
Local: Ponto de Cultura Afrobase

Grupos, Coletivos, Cias e Artistas presentes:
Back Spin Crew
Cia Treme Terra
Comunidade Cultural Quilombaque
Grupo Cupuaçu
Grupo de Capoeira Cruzeiro do Sul
Grupo Ewé
Cia Brasílica
TF Style Cia de Dança
Linha Cruzada Cia de dança
Núcleo Pé de Zamba
Saloma Sallomão
Thiago Negraxa


Novos membros que assinarão a Carta Aberta:
Núcleo Pé de Zamba
Thiago Negraxa
Grupo Ewé

1º Pauta – Indicação dos membros para compor a futura Comissão Julgadora do 19º Fomento à Dança

Nomes indicados:

Membros escolhidos pelo Fórum:

Celso Alencar
Fernando Ferraz
Kanzelumuka
Carol Rocha Ewaci (Capulanas)
Débora Marçal
Luciane Ramos
Sidinei Santiago (Os Crespos)
Thiago Negraxa
Rui Moreira
Vera Oliveira
Saloma Sallomão
Evandro Passos
Evani Tavares
André Elgênio
Fernando Ferraz (Por conta da viagem do Fernando para o Estados Unidos, decidiu-se em escolher a Débora Marçal da Capulanas para indicação).
Saloma Sallomão
Thiago Negraxa


Critérios para a escolha dos indicados:

Ø  Possuir repertórios sobre a produção de Arte Negra e Periférica dentro da cidade de São Paulo;
Ø  Ter representação/atuação nas escolhas políticas dentro da área de Cultura Negra e Periférica;
Ø  Possuir conhecimento sobre dança (teórico e/ou prático);
Ø  Estar vinculado às discussões e reuniões do Fórum de Artes Negras e Periféricas;
Ø  Ter assinado a carta aberta;
Ø  Não ter relação com nenhum grupo que possa concorrer ao Fomento ou vir a integrar o projeto enviado através de futuros trabalhos;
Ø  Haver uma diversidade nos indicados, ex.: mulheres, acadêmicos e artistas não acadêmicos;

2ª Pauta – Levantamento e sugestões de espaços para o circuito de Orientações via SMC para a escrita do edital de Fomento à Dança em regiões descentralizadas do município de São Paulo.

Sul

Ponto de Cultura Galpão Humbalada (Sul 3)
Espaço Cultural CITA (Sul 2)
Acervo Afro (Sul 1)

Oeste

Ponto de Cultura Afrobase

Leste

Centro Cultural da Penha (Leste 1)
Instituto Nova União da Arte (NUA): (Leste 2)
Centro Cultural Tiradentes (Leste 3)

 

Norte

Centro Cultural da Juventude

Noroeste

Comunidade Cultural Quilombaque

3ª Pauta – Sugestão da criação de um “Seminário de Artes Negras, Periféricas, Urbanas e Populares”


O seminário consistiria em um encontro de grupos, pesquisadores e mestres deste segmento artístico, discutindo suas experiências, propondo vivências artísticas e fazendo apresentações.
O evento resultaria em um registro em vídeo, publicações a respeito das atividades que integram o evento e a edição de um livro.
        Ø  Propor uma reunião com pauta para a organização deste Seminário;


Discussões finais acerca do Movimento e sua atuação

O Fórum de Arte Negra e Periféricas (FANP) compreende-se como um espaço de discussão artística em relação dos fazedores da arte com o âmbito político-estatal. Seu interesse está em buscar ações que alterem o atual panorama das políticas públicas ligadas à cultura no município de São Paulo, bem como em esfera estadual e nacional, visando uma construção compartilhada de leis e planos de governo que contemplem as faixas não assistidas de seus direitos culturais. Todavia, é válido apontar que, neste momento, o Movimento está focado em ações de curto e médio prazo voltadas à linguagem da dança, especificamente o Programa Municipal de Fomento à Dança para a cidade de São Paulo, com o objetivo de conquistar a DEMOCRATIZAÇÃO e POPULARIZAÇÃO do acesso ao recurso público através do reconhecimento e inclusão dos fazeres artísticos de matrizes Negra, Periférica e Popular.
Em suas reivindicações em curto prazo estão:
Ø  Implementação de processos de orientações para a escrita do edital de Fomento à Dança em regiões descentralizadas do município de São Paulo;
Ø  Diversificação da Comissão Julgadora indicada pela Secretaria Municipal de Cultura, com o objetivo de ampliar a gama de conhecimento dos avaliadores sobre outras técnicas, poéticas, estilos e fazeres da dança de modo realmente democrático; e
Ø  Arranjar estratégias para que os Membros indicados pelo FANP possam compor a Comissão Julgadora.
Em suas reivindicações em longo prazo estão:
Ø  Proposição de emendas à Lei de número 14.071 de Fomento à Dança (PL).

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

SINOPSE - FÓRUM DE ARTES NEGRAS E PERIFÉRICAS


No início de 2015, diversos coletivos da cidade de São Paulo se reúnem para criar o Fórum de Artes Negras e Periféricas com o propósito de fortalecer e articular a rede de artistas da periferia e discutir políticas públicas para as artes negras. A primeira ação oficial do Fórum é a Carta Aberta assinada por mais de 60 artistas, grupos e organizações reivindicando a Democratização e Popularização do Programa de Fomento a Dança da Cidade de São Paulo. A mobilização do Fórum ganhou repercursão nacional, tendo a carta lida em reunião setorial de Dança em Brasília na presença do Ministro da Cultura Juca Ferreira, o qual destacou publicamente a importância dessa reivnidicação em diversos meios de comunicação difundidos pelo governo federal. O movimento ganhou força articulando uma importante Audiência Pública na Câmara Municipal de São Paulo mediada pelo Vereador Toninho Vespoli para discutir a Ampliação da Lei de Fomento a Dança na cidade, que contou com a presença de Salloma Salomão, Fernando Ferraz, Maria Isabel (representante da Secretaria Municipal de Cultura) e João Nascimento.

A ação do Fórum de Artes Negras vem despertando diversas reflexões sobre poéticas, vocabulários, estéticas e temáticas negras no Brasil, desencadeando o surgimento de outros Fóruns de Dança na cidade de São Paulo, bem como, a promoção de outras mesas, encontros e palestras para discutir a dança contemporânea, políticas públicas culturais e a Lei de Fomento da Dança da Cidade de São Paulo.

Embora o Fórum tenha surgido oficialmente no início de 2015, o tema já vem sendo discutido há pelo menos 3 anos antes por alguns grupos de dança da cidade. Em parceria com outros artistas paulistanos, em novembro de 2013, a Cia Treme Terra promoveu no Ponto de Cultura Afrobase uma mesa de debate sobre “Arte Negra Contemporânea” que contou com a presença de Clyde Morgan, Firmino Pitanga, Salloma Salomão, Paulo Dias, Gal Martins e João Nascimento, integrando a programação do evento Quebrada Cultural da Zona Oeste. Em 2014, a Cia promoveu outro encontro para debater a “Dança Negra Contemporânea e Pulíticas Públicas” que aconteceu na Sala Paissandú e contou com a presença de Edileusa Santos, Carmen Luz, Fernando Ferraz, Tata Nzinga e Firmino Pitanga.

Embora neste momento o Fórum esteja empenhado veemente na discussão de ampliação da Lei de Fomento a Dança na Cidade de São Paulo, vale ressaltar, que o Fórum é uma ferramenta criada para discutir assuntos das mais diversas vertentes e linguagens das artes, não restringindo-se apenas ao setor da dança, compreendendo a complexidade e pluralidade de artistas, grupos, coletivos, companhias e instituições que participam das reuniões do Fórum de Artes Negras e Periféricas.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

CARTA ABERTA PARA A DEMOCRATIZAÇÃO E POPULARIZAÇÃO DO ACESSO AO PROGRAMA MUNICIPAL DE FOMENTO À DANÇA PARA A CIDADE DE SÃO PAULO PARA GRUPOS, COMPANHIAS E COLETIVOS QUE TRABALHAM COM VOCABULÁRIOS E TEMÁTICAS DAS CULTURAS NEGRAS E PERIFÉRICAS

Nós, artistas, grupos, coletivos e simpatizantes das artes em geral, vimos por meio desta chamar atenção para a importância da inclusão da perspectiva cultural marcada pela diversidade no PROGRAMA DE FOMENTO À DANÇA da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Uma ferramenta pública fundamental que, segundo o Artigo 1º da Lei deste edital, surge com a finalidade de “apoiar a manutenção e o desenvolvimento de projetos de trabalho continuado em dança contemporânea; fortalecer e difundir a produção artística da dança independente; garantir melhor o acesso da população à dança contemporânea; e fortalecer ações que tenham o compromisso de promover a diversidade dos bens culturais”.

Diante desses critérios, gostaríamos de abrir uma reflexão importante sobre a interpretação de conceitos que indiretamente propiciam o cerceamento da participação de grupos, companhias e coletivos que possuem o enfoque na cultura brasileira, a partir das matrizes africanas e periféricas, que geralmente não são vistos neste contexto como grupos CONTEMPORÂNEOS, sob o olhar crítico da grande maioria que compõe a banca de curadores nas edições do programa em questão.

Por tanto, nota-se que a apreciação dos projetos é realizada por uma equipe que, em sua maioria, desconhece os referenciais estéticos e poéticos sobre as Culturas Negras e Periféricas, comprometendo a sua capacidade avaliativa sobre essas formas de dança, já que seu exame é realizado a partir de quadros de referência eurocentrados e/ou euro-estadunidense. Tais recursos de avaliação referem-se, principalmente ao pensamento hegemônico reproduzido nas maiorias das universidades, escolas e academias de dança convencionais, que geralmente não incluem, reconhecem e compreendem a dança contemporânea diante de um corpo de identidade negra com vocabulários de movimentações afro-brasileiras, bem como da “Cultura de Rua” denominada hip-hop. 

Na tentativa de deslegitimar essas diversas formas de expressão, o caráter de contemporâneo mantém-se vinculado ao antigo mecanismo de exclusão que remete, em última instância, ao período colonial. Ignora então, o caráter histórico das tradições culturais oriundas de diversas etnias que migraram da África para o Brasil, bem como a presença cultural das comunidades indígenas, desconsiderando o fato de que elas conviveram e convivem com a mesma força criativa que a cultura de matriz europeia, tão valorizada dentro das instituições de ensino formal.

Conforme o edital, no item 1.2.: “Entende-se por dança contemporânea um modo de produção artística que envolve investigação, pesquisa e criação, não diretamente relacionadas a critérios biográficos de artistas ou categorização da obra por estilo, conteúdo ou técnicas”. Aí nos deparamos com outra armadilha institucional para justificar a exclusão destes grupos de Dança Negra Contemporânea, bem como as danças periféricas, que são deslegitimados pela banca de maioria acadêmicos, que geralmente definem nossos trabalhos como “grupos folclóricos e/ou tradicionais, reprodutores de coreografias que não possuem investigações, pesquisas e criações no processo de montagem de um espetáculo”.

Então nos perguntamos: Qual é o grupo artístico independente do segmento cultural ou linguagem adotada que não possui investigação, pesquisa ou criação para montar novas composições, sejam cênicas, coreográficas, ou de outras naturezas? Quais são os parâmetros utilizados para se julgar uma pesquisa de linguagem? Esses parâmetros incluem a percepção de que existe uma dança contemporânea criada a partir dos referenciais africanos? Como a criação e a recriação desses valores oriundos de matrizes africanas podem ser identificadas por aqueles que não detêm esses códigos? Será que a noção de Dança Contemporânea no Município de São Paulo não vem se desenvolvendo sobre um caráter de “tradição”, onde há “estilos”, “vocabulários” e até mesmo “qualidades de movimento” sendo padronizados e legitimados neste contexto como “contemporâneos”? 

Se a Cultura Negra na diáspora construiu um legado cultural à medida que pôde recriar sua existência dentro da experiência do desterro e da opressão, essa dinâmica se faz presente ainda hoje nas periferias onde a ausência de políticas públicas obrigam homens e mulheres, negros e negras, a se reinventarem o tempo todo. Essa dinâmica de sobrevivência tem sido marcada por continuidades e descontinuidades, pela memória, pela adequação, pela transmissão oral, pela inovação, pela diversidade e pela mutabilidade.

Ao contrario do que muitos pensam, a Dança Negra Contemporânea não é um todo indiferenciado, possui especificidades, sotaques, diversidades, singularidades, constituiu uma dinâmica histórica própria baseada na mediação incessante entre legados africanos e sua reinvenção, entre tradição e contemporaneidade, na memória da recriação. Quem não a conhece, no entanto, está comodamente acostumado a colocá-la no mesmo nicho redutor do folclórico, do exótico, enquadramento confortável diante da total e completa ignorância em ponderar sobre suas especificidades, variações e mutações. 

Vale ressaltar que consideramos o edital uma ferramenta importante para o fortalecimento de nossas ações e somos a favor de sua continuidade, porém, a insatisfação está na interpretação dos termos que excluem a participação de  grupos contemporâneos que trabalham com outras temáticas, técnicas e referências de movimentações na cidade de São Paulo. Para tanto, nossa luta está pautada na inclusão da diversidade de pesquisa de linguagens no Programa Municipal de Fomento à Dança.

Se há o consenso na promoção de políticas públicas para a dança que também garanta a continuidade de grupos, para que pesquisas importantes para a cena e história da dança contemporânea paulistana não sejam abandonadas, há igualmente uma urgente necessidade de renovação dos quadros profissionais, abordagens e referenciais artísticos. Desta forma, uma poética de dança cuja concepção nasce da mudança de paradigmas, como local de experimentação e de busca de linguagem, deve urgentemente renovar-se e também ser concebida como um fazer diverso, não se transformando em um modelo canônico dominado por um pequeno grupo cujo principal objetivo é produzir para seus próprios pares.

Diante dessas inúmeras barreiras institucionais, tomamos como objeto simbólico de estudo a experiência da Cia Treme Terra, que nos últimos 05 anos enviou cerca de 08 projetos para o PROGRAMA DE FOMENTO À DANÇA, e assim como grupos desta e de outras naturezas como o grupo TF Style, Back Spin Crew, Grupo Afro Koteban,  nunca tiveram a oportunidade de acessar o recurso público disponível, que atualmente pode chegar a R$ 734.226,82 por cada projeto contemplado de acordo com a “duração, propostas de ações culturais e contrapartidas para a municipalidade”

Vale ressaltar que essa não é uma realidade isolada, representa a situação de muitas companhias na cidade que encontram dificuldades similares para acessar o programa, quando não o desconhecem por falta de uma política de descentralização e difusão do mesmo, enquanto uma elite privilegiada de artistas da dança possui um histórico de 100% de aprovação em propostas enviadas, retém mais de 07 projetos aprovados em um edital de apenas 10 anos de existência.

No entanto, analisando os dados das edições anteriores perguntamos: Quantos grupos residentes nas periferias foram contemplados nesse edital? Quantos grupos de Dança Negra Contemporânea foram fomentados? Quantos curadores detém conhecimento dos códigos das danças negras e periféricas e/ou possuem pesquisas artísticas significativas para analisar tais propostas? Quais análises podemos fazer a partir desses dados? 

CARTA ASSINADA PELOS ARTISTAS, GRUPOS, COMPANHIAS, COLETIVOS E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVÍL:

Fórum de Artes Negras e Periféricas, Fórum de Hip-Hop do Butantã, Cia Treme Terra, TF Style, Back Spin Crew, Grupo Cupuaçu, Quilombaque, Núcleo Artístico Tembuá, Cia Fragmento Urbano, Fanta Konatê e Trupe Djembedon, Linha Cruzada Cia de Dança, Grupo Ewé, Sambaqui, Grupo Pé de Zamba, Cia Brasílica, Coletivo Negro, Os Crespos, Capulanas Cia de Arte Negra, Cia de Dança Street Son, Street Breaker's, Círculo Palmarino, Quilombação, Uneafro-Brasil, Grupo Afro Koteban, Casadalapa, Grupo Quizumba, Teatro Vento Forte, Levante Mulher, Orquestra de Berimbaus do Morro do Querosene, Associação Raso da Catarina, Z’África Brasil, Manos Urbanos, Haphirma-Coletivo, Umoja Brasil, Guardiões Griô, Blog Negro Belchior, Periferia em Movimento, Associação Franciscana de Defesa de Direitos e Formação Popular, Instituto Nação, WAPI Brasil, Ong Caio, Ideologia Fatal, Ponto de Cultura Afrobase, Afoxé Filhos do Cacique, Clyde Morgan, Laís Morgan, Tião Carvalho, Thiago Negraxa, Nelson Triunfo, Salloma Salomão, Mestre Lumumba, Fernando Ferraz, Luciane Ramos Silva, Bukassa Kabengele, Firmino Pitanga, Kleber Lourenço, Julio Dojcsar, Ailton Graça, Ana Musidora, Lucas Marchezin, Deca Madureira, Flávio Falcone, Diogo Granato, Paloma Xavier, Fernando Alabê, Anderson Xavier, Luiz Anastácio, Joseane Azevedo, Joelma Sousa, Rodrigo Alcântara, Denise Alcantara, Warley Alves Barbosa, Miranda de Amaralina, Crismara Correa, Moises Patrício, Arlete Alves, Pedro Guasco, Achiles Luciano, Panikinho, Amanda NegraSim e Adriana Moreira.

FÓRUM DE ARTES NEGRAS E PERIFÉRICAS DISCUTI FOMENTO A DANÇA